O reflexo mente.
O reflexo no espelho distorce quem eu sou.
O reflexo das coisas ao meu redor distorcem minha alma.
Perdida em meio a tal desordem busco um ponto de convergência para me agarrar. Não há, então com um grito aflito minha alma é atirada em direção ao desconhecido.
Já não sei mais quem sou, não sei ao menos se eu deveria ser algo, se deveria querer ser algo.
Todas linhas e conexões de minha alma estão cortadas, rasgadas, jogadas pelo chão da minha existência. Sem começo, sem fim, sem meio, sem vida.
Diante de tal atordoante situação, fiquei nua e diante do espelho pude constatar que era minha alma que clamava por nudez, estava totalmente cheia, inundada de conceitos e defeitos tolos.
Me entreguei ao impulso de me lançar ao chão em completa melâncolia na esperança de que todas minhas lágrimas pudessem me deixar em um único movimento, um simples momento, mas elas continuam aqui, continuam em mim.
Continuava nua e minha pele tocava o chão frio de madeira enquanto o ambiente já era parte de mim. Queria flutuar, mas não podia. Meu corpo continuava pesado criando amarras junto ao chão, amarras essas que me custariam muito para soltar. Perdas, ganhos, medos e incertezas. Seria capaz de encarar?
Te clamo com toda força que já não tenho que me explique como a frágil constituição do seu ser continua a carregar tamanha carga dia após dia.
Explique como continuo caminhando quando a muito deixei de sentir as pernas, quando a muito deixei de sentir meu sangue correr e meu coração bater.
O reflexo mente e já não sou capaz de encara-lo. Em um impulso lanço meu instrumento espelhado ao chão, ele se parte em mil padaços. Agora me reflito. Estilhaçado (a).